terça-feira, 23 de setembro de 2014

Caldinha de chorume no sundae de cocô

Você está lá, no meio de preparação pra mudança/dieta/falta de hormônio, tentando manter a cabeça erguida e o bom humor. Então decide ir ao showzinho de um amigo, que vai cantar. 7 da noite, no Itaim Bibi, vamos lá, tomamos uma cervejinha, nos divertimos, e voltamos pra casa cedo porque eu não posso comer nada fora de casa. Certo?

Tecnicamente sim. Mas a cidade, a violência, os filhos da puta, a desigualdade, tudo isso acabou dando no imprevisível: assalto a mão armada a 300 metros de nosso destino. Estávamos andando super distraídos, dando risada, numa área que é super familiar a mim. Quando percebemos, um casal estava em cima de nós, pedindo nossas coisas. Eu reagi, saí correndo. E aí o cara sacou a arma e mostrou ao meu marido. Eu não vi a arma, eu só senti o chão abrindo, e meu marido me puxando, me segurando e pedindo pra eu entregar tudo.

Entreguei.

Minha cabeça começou a pirar, eu só pensava que podiam ter atirado em nós, que meu marido podia ter sido baleado com a minha reação, que tudo podia ter sido uma tragédia. O fato de não ter acontecido uma tragédia não me ajudou a me acalmar. Tive uma crise nervosa, chorei sem conseguir parar, e só parei mesmo quando Thiago me disse que tinha conseguido bloquear meu celular através da operadora.

Nossos amigos nos ajudaram, depois ainda nos levaram pra sair e eu mandei tudo à merda e comi duas fatias de bruschetta com queijo derretido. Rebelde!

Não vou entrar na questão da sensação de impotência, revolta, etc etc. Porque senão eu vou ficar sempre em looping nesse assunto. Só vou dizer que esse ano está MESMO um híbrido de 2012 (câncer e problemas financeiros) com 2008 (questões familiares e assalto). Eu espero, de coração mesmo, que agora que chegamos ao fim do poço sendo assaltados, a gente consiga só subir. E sair dessa fase.

Hoje comecei a cintilografia (demora 3 dias), sexta começamos a mudança para um lugar melhor e maior, o resultado do exame sai na semana que vem. Mais uns dias só de dieta. Tudo vai começar a melhorar. TEM que melhorar.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Não é à toa

O que aconteceu do fim de julho pra cá:

- Eu descobri sobre o tumor mais agressivo, e que eu terei que terminar o tratamento do câncer.
- O professor que tinha mais turmas na minha empresa decidiu sair, e aí eu tive que sair correndo feito louca pra resolver as substituições.
- No dia seguinte ao aviso de saída do professor, soubemos que minha mãe passaria por uma cirurgia de emergência.
- A cirurgia seria no mesmo dia da minha audiência contra a Claro.
- Deu tudo certo na cirurgia (graças aos céus! e à médica competente), e eu passei um fim-de-semana de plantão cuidando de mamãe.
- A procura por substituto ao professor foi intensa.
- A Unimed me avisou que não tinha rede credenciada para o meu exame.
- Ficamos sabendo que teríamos que sair do apartamento onde estamos pois o dono quer vender.
- A Unimed me avisou que eles têm rede credenciada para o meu exame.
- Agendei o exame e peguei os procedimentos todos de preparação.
- Parei de tomar o hormônio.
- Achamos um apartamento legal.
- Entramos com a papelada.
- A fiadora foi negada.
- Saímos atrás de como resolver isso.

Sem hormônio, em dieta super restritiva, resolvendo questões de trabalho, planejando mudança e com exame agendado. Agendar o exame foi como se uma bigorna tivesse caído na minha cabeça. Tudo o que eu não tinha reagido antes, eu reagi na semana passada quando a preparação começou. E juntando com todo o resto, o que aconteceu foi que eu passei 5 dias chorando.

Fiquei três dias sofrendo sozinha, só depois consegui desabafar com o meu marido. Aí só depois achei que deveria conversar com uma amiga. Foi tudo muito difícil, porque ao mesmo tempo em que eu estava muito mal, eu não queria que achassem que era frescura minha. Então fiz algo que eu geralmente não faço, que é sofrer sozinha sem contar para ninguém. E minha gente, é horrível. Minha nossa. Sem querer falar a respeito, parece que a coisa só cresceu. Quando consegui conversar sobre meu estado, parece que eu estava numa bolha, e a bolha, então, foi murchando, e eu fui conseguindo sair dali pra respirar.

Agora estou bem melhor. Fui na acupuntura, fui ao centro espírita me benzer, conversei com amigos bem próximos. Meu marido está sendo muito compreensivo, é claro. Resolvi listar tudo o que aconteceu num período de um mês até pra eu realmente dimensionar o motivo de minha queda emocional na semana passada. E percebi que esse ano teve diversos acontecimentos, pequenos e outros nem tanto, mas a maioria ruins. Nenhuma tragédia, mas uma sucessão de coisinhas, até que rolou um acúmulo de coisas mais sérias, e não há quem consiga lidar com tudo isso sem cair.

Eu caio, eu me deixo cair, eu choro mesmo. Mas eu levanto depois, porque a verdade é que eu não tenho escolha. Fico sempre pensando: eu sou mesmo forte, ou eu sou apenas produto da necessidade? Porque eu não tenho como parar. Eu não tenho a escolha de dar um tempo. Se eu parar, eu não ganho dinheiro, eu acumulo dívidas, parar não é uma escolha.

O que ficou dessa semana negra é que eu não sei guardar o que estou sentindo. Eu fico muito pior. Falar, falar é o caminho. E ainda bem que eu tenho ao meu redor pessoas com quem posso REALMENTE contar.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Mais essa

Foram dois endocrinologistas e uma cirurgiã de cabeça e pescoço. Uma biópsia, feita com os pequenos tumores (eram pequenos mesmo) retirados de minha falecida tireóide. Quase dois anos da descoberta do câncer. É muito tempo, né. Tudo isso pra eu descobrir que um dos pequenos tumores estava começando a se comportar como agressivo, e que ele não estava encapsulado - ou seja, estava começando a querer se espalhar.

Isso estava lá na biópsia, que dois médicos e a cirurgiã leram. Mas nenhum deles me contou isso. Estou há dois anos lidando com a terapia hormonal, com o controle do TSH, mas sem saber que um dos tumores era o Voldemort ressuscitado, e não o Voldemort no começo da saga HP.

Descobri isso na terceira médica, que olhou a biópsia, e já me soltou essa bomba. "Mas você não sabia?" Não, não sabia. "Mas você já fez a cintilografia, não fez?" Não, não fiz, os médicos anteriores acharam desnecessário porque meu nível de tireoglobulina é baixo. "Mas a cintilografia e a iodoterapia são parte do tratamento do câncer! Não tem motivo para excluí-las" Pois é, doutora. Taí o motivo da senhora ser a terceira médica em dois anos. Eu sabia que tinha que fazer essas coisas, mas não posso entrar louca no hospital falando "me dá uma pesquisa de corpo inteiro pra agora, por gentileza"

Já fiquei brava, já me acalmei, já fiquei muito preocupada e chorei, já me acalmei de novo. Hoje eu já chorei, mas passou. Lá vem o pessoal do "deixa disso" me dizer que nem devo me preocupar, que vai ser tranquilo o exame, a iodo também, e bla bla bla.

Olha só. Eu sei que não vou morrer. E que se o câncer tiver espalhado, o iodo radioativo mata essa merda. Mas eu não queria ter que lidar com isso depois de dois anos. Eu queria estar livre de ter que passar por tratamento. Eu queria nunca nem ter tido essa caralha; mas já que tive, já que fiz cirurgia, já que estou há dois anos super controlada nos hormônios, eu queria que agora eu estivesse realmente despreocupada, dentro do possível.

Para a cintilografia tenho que entrar em hipotireoidismo. Parei de tomar o remédio, e a partir dessa semana entrarei em dieta - não posso consumir iodo, mas tudo tem iodo. Então uso sal especial e só posso comer em casa. O hipo deixa a gente mole, cansada, lerda, com memória fraca. Tudo que não preciso é ficar cansada e lerda agora.

Continuo super consciente de que isso tudo aí que contei é nada perto de quem faz quimioterapia. Ainda assim, a preocupação é grande. E que médicos são esses? Tive que passar por 3 pra conseguir o pedido do exame que eu deveria ter feito no começo do ano passado. Passar por tudo isso agora é pensar que ainda pode existir horcrux no meu corpo. Achei que tivesse dado um avada kedavra definitivo, mas o Voldemort é mesmo muito engenhoso.