quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Pequenos prazeres

Não ter que acordar cedo amanhã e poder ler um pouco, no silêncio de casa mas com o barulho da chuva.

Assistir "Homeland" no meio da tarde, no café Havanna, enquanto como torta de maçã com nozes.

Ir ao cabeleireiro também no meio da tarde, pra fazer aquela hidratação que comprei no Groupon. Sou pobre mas sou hidratada.

Trocar mensagens sobre a vida e sobre o nada com a Nata. Receber um email de uma das melhores amigas, que está no Canadá (mas não é a Luiza). Receber um email fofo do Caco. E outro email do amigo que mora lá longe.

Resolver celebrar o fato de que não terei que passar por quimio e não vou perder meus cabelos, deixando-os mais bonitos e modernos (quem sabe) indo àquele salão prafrentex.

Planejar viajar com meu marido. Pra Caraguá. Pra NY, um dia. Pra onde for, com ele.

Esperar com ansiedade pra ir assistir a um musical com minha mãe.

Marcar uma noite de fofocas com amigas mais do que queridas.

Decidir acalmar meu coração. Com relação ao câncer, à cirurgia, à ausência de algumas pessoas que me são caras. Hoje eu consegui isso. Pequena vitória!

Ver que apesar dos meus medos e tristezas eu consigo focar nessas pequenas coisas que fazem tão bem!

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Cortando o que me irrita

Já faz um tempo que eu decidi que não precisava me irritar com as redes sociais. Durante algum tempo, eu lia coisas no Twitter e Facebook, ficava indignada, achava a pessoa besta, ficava com vontade de ir lá perguntar "mas o que deu em você pra escrever essa idiotice?", etc etc etc. Aí eu parei pra pensar e vi que a besta sou eu. Se sou eu quem escolhe minha timeline, eu estava aturando babaquice por vontade própria.

Numa auto-luta pra provar que besta é tu, não eu, fui me desapegando do Twitter. Poderia dar unfollow, mas me deu preguiça - teria que dar unfollow em mais da metade das pessoas. Considerei o tanto de tempo que se perde naquele treco. E acabei desencanando. Entro ali menos de uma vez por mês, dou uma lida geral e continuo achando que o melhor é me manter afastada.

No Chorumebook (esse nome é invenção da Lilla) eu mantive a amizade com todos, mas deixei de assinar uma galera enorme. Gente que milita demais, que enche o saco com política, que escreve como se fosse dono da verdade, que posta imagens imbecis de criancinhas + auto-ajuda, que escreve coisas insinuando como é forte/guerreira/batalhadora/gente que faz/muito independente (geralmente é mulher e acho essas publicações particularmente insuportáveis), e por aí vai - a lista de coisas que eu acho idiotas é muito longa.

Basicamente eu acho que se você é foda, não precisa ficar falando. Se você é politizada, vai esfregar isso na cara das pessoas em fóruns de gente que gosta de falar de política o tempo todo. Se você curte militar sobre esquerda/direita/feminismo/cotas/etc - cara, muito legal que você seja assim, engajado. Mas falar disso o tempo todo é chato, então eu não te assino mais. Se você se acha a mulher mais independente e batalhadora do mundo, eu até acredito que você seja, mas não enche o meu saco com isso. Tenho uma amiga (não leitora desse blog) que toda semana listava as milhares de coisas que ela tinha feito no dia e terminava com "vamo que vamo!" ou coisas do tipo. Eu admiro demais essa amiga. Mas sério, precisa anunciar o que faz ou deixa de fazer?

Como eu detesto cagar regra em rede social e acho que todo mundo tem liberdade pra falar o que quiser - se eu acho que é merda, quem tem que se retirar sou eu. Por que senão fica aquele ciclo "pessoas falam merda - pessoas reclamam das merdas - pessoas cagam regras - pessoas falam que falam o que quiserem". Aí piora tudo. Então eu não fico resmungando muito (só às vezes) e deixo de assinar.

Se fazendo isso eu ainda fiquei irritada com a eleição e o maniqueísmo louco PT versus PSDB, imaginem se eu não tivesse feito a limpa.

E essa postura estou tentando levar pra vida, sabem? Redes sociais não são pra dar trabalho. Amizades não são pra dar trabalho, são pra facilitar, tornar tudo mais bonito. Não é? Então basicamente é isso. Encheu meus pacovás de alguma maneira, eu vou deixando pra lá. É a desassinatura da vida real.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Aprendendo com meu cunhado de 13 anos

Meu pequeno cunhado me manda uma mensagem por dia no email do Facebook. Cada dia algo diferente:

"Como vc tá? :)"
"Manda notícias"
"Amo vc!"
"Nós aqui amamos vcs, manda noticias, ta?"

Não tenho nem palavras pra descrever o quanto eu acho essa atitude dele fofa. E é uma atitude simples, né? Super simples. Porque não há motivo para complicar algo que EU estou tentando não complicar (consigo não complicar a maior parte do tempo, mas alguns dias são difíceis).

13 anos, minha gente. 13 anos.

(E podem me chamar de exagerada, mas sinto que essa fase de doença/cirurgia/recuperação será uma divisora de águas)


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Mickeyday

Um aluno falando os dias da semana:

Monday, Tuesday, Waldisney...

Falei para ele o correto. Wednesday. Mas agora ele usa Waldisney pra associar que quarta-feira é Wednesday.

Um outro, pra lembrar a pronúncia de Russia, ficou falando "Luxemburgo".

E um outro, pra dizer que tinha entendido a expressão "piece of cake" falou "ah, tipo em português, mamão com chuchu". Ele quis dizer "mamão com açúcar".

Por coisas assim é que eu digo que aulas podem ser bem divertidas.

E bom Waldisney pra vocês!

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Reações

Nessa história do meu Voldemort, tem sido difícil entender as pessoas e suas reações. Eu não tenho um chefe, eu tenho vários alunos. Que precisam ser avisados que em dezembro não darei aulas. E que precisam saber da verdade porque essa é a maneira que escolhi em lidar com minha situação. Peito aberto. Eu não espero lágrimas nem abraços - não corro risco e não tenho esses alunos há muito tempo, então nenhuma reação muito exacerbada seria justificada. Mas um "sinto muito" eu acho que cai bem. Um trio de alunos não conseguiu ter reação. Eles congelaram e não falaram nada. NADA. Pensem na minha situação. Estou dando notícias de saúde e as pessoas não falam nada.

Também é difícil quando as pessoas falam em tom de "não é nada". "É só tirar e fica tudo bem". Pois se é assim simples, vamos trocar de lugar? Por acaso eu curto minha tireoide, ela funciona. Não queria ter que tirá-la nem ter que tomar hormônio pro resto da vida. Tenho medo de cirurgia. E por mais simples que esse tipo de câncer seja, ainda assim, é câncer. Se fosse coisa boa, chamaria sundae com marshmellow, não câncer de tireoide. Então respeite minha tristeza, respeite meu medo e não fale como se não fosse nada. Se não fosse, eu estaria saudável, e não com cirurgia quase marcada.

Outra coisa difícil é amigo próximo que reage de uma maneira completamente inesperada. In a bad way. Você espera reações ruins de todo mundo, menos de amigos próximos. Eu acho uma reação ruim um amigo próximo não me ligar, nem responder email, nem mandar mensagem. Porque é uma questão de se colocar no meu lugar. E eu espero que meus amigos próximos consigam fazer isso. São amigos. Próximos. 

Fico pensando que tudo isso pode ser porque é difícil mesmo lidar com essa doença. Existem, ainda, muitos preconceitos e mitos e medos. As pessoas ainda associam câncer com morte. E eu estou desgastada porque estou tentando entender as pessoas e aceitar suas reações. Ou a falta delas. Talvez elas não saibam como lidar com isso. O que falar, afinal? Muitos acham que um "sinto muito" não faz diferença, mas faz. um "porra, que merda" vale também. 
 
Mas no meio de todo esse desgaste emocional, tenho dito repetidamente o quanto tenho a sorte de ter família e amigos por perto. Recebi visitas, ligações, mensagens, abraços, emails lindos lindos. Todos me dando força. Todos me mandando boas vibrações. Parece bobagem, parece frescura, mas isso faz diferença. O coração fica quentinho, o dia fica melhor. Quero deixar isso bem registrado aqui pra eu não parecer ingrata. Porque no final, o que vai importar mesmo é isso: quem ficar ao meu lado. 

Ah! Obrigada a quem comentou o post anterior. 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Meu Voldemort pessoal

Não me lembro o motivo, mas no mundo de Harry Potter os bruxos e bruxas não falavam o nome do Voldemort. Chamavam o malvadão de "Aquele que não pode ser nomeado". Aí chegou Harry, que bateu seu pau juvenil na mesa e disse "Tão pensando que o bruxão é bagunça? Vamos chamá-lo pelo nome sim, não vamos dar a ele ainda mais poder".

Por muitos anos foi assim com o câncer. As pessoas não mencionavam o nome, chamavam de "aquela doença". Anos de avanço na medicina e já se fala o nome, mas ele ainda é cercado de tabus. Câncer, infelizmente, ainda é associado a morte. Falar que você tem câncer quase que automaticamente te sentencia a um ser moribundo.

É uma doença assustadora. Eu entendo as pessoas não quererem falar a respeito. Entendo mesmo. Mas desde que eu confirmei, essa semana, que tenho câncer na tireoide, eu parei de chamar de "nódulo maligno" e chamei de câncer mesmo.

É o que é. É esse o nome. É esse o meu Voldemort pessoal e eu não vou dar a ele mais poder que ele já tem. E tenho tentado falar a respeito o mais abertamente e diretamente possível.

Não corro risco de vida e a cura, em casos como o meu, chega a 100%. Estou confiante.

E triste. E é direito meu estar triste e preocupada. Vou fazer cirurgia, minha vida vai mudar. Mas quando o médico confirmou, não foi uma sentença de morte, longe disso. Foi a certeza de que vou travar uma pequena batalha contra algo ruim no meu corpo. E vou ficar boa.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Pô, tia Marian!

Adoro, simplesmente adoro Marian Keyes. Você lê sabendo que o bem vence o mal e o cara além de gato é incrível, mas ela tem um lado mezzo dark mezzo profundinho (inho) que me agrada. Já li vários dela e costumo me surpreender um pouco com os panos de fundo que ela cria para algumas histórias. No mais, nada como um bom chick lit pra nos libertar, ainda que na imaginação apenas, da dura realidade.

Sexta passada fiz questão de comprar um livro dela. O sofrimento da personagem provavelmente viria do amor ou do rehab ou da gravidez e não teria como eu ficar pensando sobre a minha vida por identificação.

Ontem estava insone e fiquei lendo, até chegar na parte em que uma das personagens percebe um calombo no pescoço. Desgraça alert! Como de costume, já que não leio livro nenhum linearmente, pulei páginas, li, pulei mais páginas, li, li o último capítulo. BAM! Era aquilo mesmo. Aquilo as in aquilo no qual eu estava tentando não pensar.

Nem Marian Keyes tá me ajudando. Pô, tia!

domingo, 14 de outubro de 2012

Forte?

Ainda não sei o que vem pela frente, só sei que será difícil. Quando eu passei por todo aquele drama da vida real do meu pai biológico, um ex me disse que eu era a segunda pessoa mais forte do mundo, perdendo apenas para Chuck Norris - ou alguma bobagem parecida.
Essa semana, quando eu soube, ouvi de 3 amigas diferentes: você é forte, é guerreira e vai superar. E também "Deus não manda pra gente fardo maior do que podemos carregar".
E eu penso: e se eu não for forte? E se eu não for essa força toda e, justamente por não ser, eu esteja assim? E se tudo isso for sim, um fardo maior do que eu posso carregar?
É difícil pensar assim, que sou forte e aguento tudo. Parece que tenho obrigação de estar sempre em posição de alerta, de "vou sacudir a poeira e dar a volta por cima". Mas não é assim.
E Deus, né. Esse grande fanfarrão. Mandou um fardo tão grande há quatro anos que estou aqui, sofrendo algumas consequências daquele peso todo, daquele fardo pesado, de ter sido tão forte.
Antes eu tivesse fraquejado um pouco.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Antes que eu escreva o que vim aqui escrever, quero deixar claro que eu não entendo de política, não voto pensando em estratégia da puta que pariu e não sou nem de esquerda e nem de direita - porque não quero, não vejo sentido e acho que quando a gente assume que é isso ou aquilo acaba ficando cega pros erros de seu próprio lado.

Enfim.

Não se ofendam pessoas.

Eu fiquei um pouco emocionada com a perda do Russomano. Eu estava com medo dele ganhar - porque ele é um senhor falastrão e sensacionalista e porque ele era apadrinhado pela IURD. E eu me cago de medo da IURD ter mais poder que já tem. Fico pra morrer quando penso que no Congresso existe uma bancada evangélica - num Estado supostamente laico.

O Russomano esta liderando e eu sofri com aquilo. Eu amo São Paulo. Acho uma cidade do caralho com um potencial absurdo. Não conseguia ver esse cara considerando o potencial que minha cidade tem. Via ele sendo uma marionete de um pastor megalomaníaco que quer controlar o país. E isso, como eu disse, num Estado supostamente laico.

A perda de Russão me deu um certo ânimo. De que é possível mudar as coisas. O fato de nenhum candidato circense a vereador ter ganhado me deixou feliz também. O segundo turno está difícil. Haddad, nhé. Serra, nhé. Não, eu não sou petista, acho que o PT fez muita merda, o governo da Marta Suplicy foi ruim. Mas o fato d'eu não ser petista não quer dizer que eu seja, sei lá, defensora do DEM.

Eu só queria, pra minha São Paulo, um governo que seguisse um meio-termo. Mas é pedir demais, né? Vamos com calma. Só o fato do Russomano ter caído já é motivo de muita alegria.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

What the hell happened to doctors?

Meu endocrinologista parece uma versão mais cabeluda do Gabeira. Inclusive quanto a parecer estar fumado, sempre. Minha dermatologista tentou deixar os efeitos da Isotretinoína (o famoso Roacutan) mais leves. Fui fazer um exame outro dia em que o médico quase estuprou meu pescoço porque não esperou a anestesia fazer efeito e enfiou uma agulhona na minha tireoide a seco - fiquei dois dias sentindo muita dor. O endocrinologista falou na maior naturalidade do mundo que "se tiver problema, é só tirar". Eu não vejo cirurgia como algo tranquilo, amigão. O médico carniceiro fio de u'a égua que machucou meu pescoço fez pouco caso da minha dor e disse "é como uma injeção, ué, nunca tomou injeção?".

God bless meu equilíbrio (cof cof).

Porque eu me segurei pra não responder "seu desgraçado irresponsável, eu tomo vacina pra rinite toda semana, então tomo injeção toda semana. E SOU EU QUEM APLICA AQUELA MERDA. E não tenho medo de seringa nem de agulha! Então pique o seu furingo e veja se é só uma injeção".

Sério, eu quis muito falar isso. Não falei porque sou equilibrada - HAHAHAHA, mentira, não falei porque estava quase sem voz e sentindo uma dor infernal. Mas estou há 3 dias desejando a esse médico uma consulta bastante dolorida em algum proctologista que fale "é igual fio terra, nunca fez fio terra????".




terça-feira, 2 de outubro de 2012

Cansada de opinião

Eu escrevo pouco aqui porque tenho essa coisa de que se não for pra escrever um texto, estilo redação-começo-meio-e-fim, então nem vale a pena começar. Estava pensando nisso hoje de manhã, como eu deixo de escrever por prazer porque me imponho uma regra bastante ridícula. E daí se eu escrever só um parágrafo, uma linha, um pensamento solto? Quem vai se importar? E daí se eu não elaborar direito o que estou pensando e tudo parecer apenas pensamento jogado?

É bom soltar os pensamentos. Pra uma pessoa obsessiva como eu, livrar-se de pensamentos é uma maravilha. Pensou, soltou, não fica "psicada" com aquilo - ou pelo menos consegue "psicar" mesmo. Tem tanta coisa em que eu penso, decido escrever a respeito, elaboro e deixo de postar por:

a) falta de tempo
b) preguiça
c) falta de um final pro meu texto
d) todas as anteriores

Tem também o fato d'eu estar com preguiça de opiniões. Porque tudo na internerd se parece com um comício de uma pessoa só. Negada pega seu banquinho, sobe nele, grita e fala o que quer. Se fosse uma pessoa só, beleza. Mas todos fazem isso. Pior: EU faço isso às vezes. Tô lá com meu banquinho dando a minha opinião não solicitada, ao lado de outras pessoas fazendo comício ali na Rua da Conexão Banda Larga, e, no final, acho que a internet fica parecida com época de eleição. Onde tem político, cavalete e gente falando em todo canto.

E poxa, longe de mim achar que opinião não se dá. Tem que dar opinião sim. Mas precisa militar tanto? É isso que me tira do sério. Não são as opiniões que me cansam, é a militância. Não, minto, as opiniões também. Mas principalmente a militância. E as pessoas monotemáticas. Curte política, só fala disso. É feminista, só fala disso. Não pode variar?

As pessoas dão opiniões e militam e parece que começam a ver o mundo só em preto e branco. É isso ou é aquilo. Ninguém quer conversar, só quer vomitar o que pensa. Sabem? Enche o saco.