quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A busca que está chegando ao fim

Foram 29 anos tendo somente um nome como referência paterna. Um nome, sem sobrenome, sem nada além de 4 letras. E aí me veio a bomba: talvez esse nome não seja o do seu pai. Talvez seu pai seja aquele lá, que você sempre detestou. Aquele que pode ser chamado de Problema. E, por causa da semelhança física com Problema, enterrei aquelas quatro letras em algum lugar do meu coração e lá deixei, porque lidar com as letras do nome recentemente revelado já era demais para mim.

E Problema já estava morto.

Eu não podia falar com Problema, acusar Problema, chorar na frente de Problema porque ele já tinha ido embora dessa vida. Os filhos de Problema, os Probleminhas, eu deixei para lá porque eu mesma já estava me tornando um problema. Ou uma Problema? Foi tanto choro. Foi tanta dor. E aquelas 4 letras, do nome que eu achava que seria de meu pai, foram ainda mais guardadas. Se não havia semelhança física, se um era problema, esse aí devia ser traficante de velhinhas. Devia ser pior. 4 letras, Pior. Não fui atrás. Problema já havia sido demais para mim, Pior seria ainda, er... pior.

Mais de um ano e meio depois o dono do nome com 4 letras foi localizado. E ele não tinha nada de ruim e nem de Pior. Na verdade, não há adjetivo bom de 4 letras em Português que eu possa usar para falar dele. E como ele é legal, usarei uma palavra em Inglês: nice. Pois então, Mr. Nice foi localizado e está disposto a elucidar, junto comigo, todo esse mistério que é meu passado, que são minhas raízes, que é minha vida. Sou uma pessoa sem raízes, numa família que não gosta de falar do passado. Minha tataravó que veio da Itália, só descobri ontem qual era o nome e sobrenome dela. Talvez venha dela a herança dos olhos claros que tenho e que são exceção na família. Cresci sem saber quase nada, e, da parte do meu pai, menos ainda. Sou o fruto de uma criação pós-hippie de escola alternativa, de família muito religiosa, que acabou se rebelando depois dos 24 anos. Quem se rebela depois dos 24 anos?

Essa minha dúvida com relação às minhas origens está chegando ao fim. Junto com esse fim, vem, é claro, a dúvida do depois. E a dúvida do próximo fim-de-semana. Eu já sou estranha numa família que me conhece desde que nasci. Como será ser estranha numa família que vou conhecer ainda? E se eu continuar sentindo que sou uma extra-terrestre? E se não gostarem de mim, o que faço?

Imaginem, ter esse tipo de medo de aceitação depois de adulta. O que você faz? Eu me controlo. Tem surtido efeito. Um dia antes de viajar eu vou sair pra dançar, assim chego lá de alma lavada. De resto, é só esperar. E se concentrar no fato de que a grande dúvida da minha vida está chegando ao fim. Independentemente do resultado, a dúvida está chegando ao fim. E alguém que enfrentou tudo isso sem enlouquecer não há de enlouquecer com mais nada nessa vida.


Minha loucura

A verdade é que fazer aniversário não muda muito as coisas quando você já tem conflitos com a sua idade o ano todo. Agora é só mais um ano adicionado ao conflito. Não acho que ter 30 ou 31 anos seja um problema, na verdade, acho que a maturidade que tenho agora é um dos meus maiores bens. O que me incomoda é já ter 31 anos e saber que meu corpo vai mudar e eu tenho que pensar em ter filhos até, sei lá, os 36 anos. São apenas 5 anos! Em 5 anos eu não terei a estabilidade que quero para ter filhos. E eu não abro mão de ter filhos. Uma amiga disse que depois dos 35 tudo cai e já entrei em neurose master porque eu odeio malhar, detesto atividades físicas que não envolvam músicas e coreografias e só dançar não vai dar um UP no visual. Entendem? Não, né. É muita neurose, eu sei disso. E aí entro naquela preocupação de me tornar uma velha metida a jovem. Sabe aquelas tias sem noção que acham que têm 18 anos? Vi uma na manicure na semana passada. A senhora em questã deve ter mais de 50 anos. Tem a cara toda esticada de plástica. Tem aplique loiro nos cabelos. Usava um vestido de malha branco meio transparente. E um salto de drag queen. Ok, se ela é feliz assim, ótimo. Mas e se meus neurônios surtarem e um dia eu ficar assim? Tenho primas entre 19 e 21 anos e elas acham que sou jovenzinha. Já me fizeram ir numa balada com elas, e eu super me diverti (tirar sarro das pessoas me diverte e eu fiz isso quase o tempo todo), até porque muitas meninas ali pareciam mais velhas que eu. Mas e se, daqui alguns anos, eu continuar indo numa balada de gente muito jovem e achar divertido? E os jovens olharem pra mim com aquela cara de "o que essa tia sem noção tá fazendo aqui?".

É isso.

Essa coisa de amar sair pra dançar e ser atualizada nas gírias e dialetos da chufentude acaba me deixando um pouco confusa porque me acho jovem mas tenho 31 anos na fuça. Uma amiga minha comprou o apartamento dela aos 27 anos. Eu não comprei nem uma mobilete. Nem uma barraca de camping.

Não é fácil viver em sociedade. É muita pressão pra uma pessoa que já é um tanto quanto neurótica.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Bom senso, a gente não vê por aí não. Infelizmente.

Fato 1: No fim-de-semana logo após o Natal as praias do Rio não estavam muito amigáveis. Sábado a água de Ipanema parecia caldo de cana. Domingo a praia do Leblon parecia diarréia marrom. Desculpem, é a única definição que faz juz à realidade. Sábado só caminhamos pela orla. Domingo fomos guerreiros e fomos ao Leblon - obviamente só soubemos da condição da água ao chegar lá. A situação, já calamitosa, se agravava com os comentários do pessoal ao redor. Ouvir que a água está oleosa e que uma criança viu dois toroços de cocô não te encorajam nem a dar uma molhadinha na ponta dos pés. Mas fazia calor. CALOR. E nas praias urbanas não venta. A impressão era de que a pele estava derretendo, juntamente com seu cérebro. Solução: usar o chuveiro coletivo que estava a poucos metros de nós. Solução não é bem a palavra, pois havia fila, e fila só é solução quando me chamarem pruma fila de distribuição de 50 mil reais por pessoa. Não era o caso.

Entrei na fila. Ao lado do chuveiro havia uma comunidade inteira, uns 15 ceresumanos, todos juntos, muitas cadeiras, muitas cangas, muitas crianças barulhentas, muitas tias falando alto com a Creide, que estava na fila. É bonita a vida em comunidade, né? NOT. Cada pessoa que entrava no chuveiro tinha seu banho de água fresca interrompido por uma senhourita da comunidade, que, com o baldinho de prásco que ela pegou do Valciscleison, pegava metade da água que saía. Isso mesmo. Ela colocava o baldinho ACIMA da cabeça das pessoas que estavam no chuveiro, deixando apenas meio fluxo de água pra pessoa. A outra metade era dela. Ela queria se refrescar jogando água no corpitcho. Só que a mulher era GRANDE. Precisava de uma caixa d'água, não do baldinho do Valciscleison. Imaginem quantas vezes ela encheu aquela porra de troço prásco. A resposta é: inúmeras. Depois que a gata dourada estava refrescada, ela empurrava a Gleycianny, pequerrucha de uns 2 anos, para o meio das pernas de quem estivesse no chuveiro. Pelo que entendi, ela só fez isso com pessoas conhecidas dela, o que é menos pior. Mas, ainda assim, BOM SENSO, cadê você, eu vim aqui só pra te ver! Alguém da comunidade reclamou com a senhourita rechonchuda ladra de água dizendo que ela não devia fazer aquilo. Resposta dela: "TEM ÁGUA PRA TODO MUNDO AQUI!

E meu PAVOR dela fazer isso na minha vez? Eu não levo desaforo pra casa e falta de noção alheia me tira MUITO do sério. Eu já estava vendo que ela enfiaria aquele baldinho do capeta em cima de minha cabeça, eu reclamaria, iam me chamar de paulista metida a besta ou de branca azeda eshshshshcrota, todos se voltariam contra mim e eu apanharia da comunidade toda. Porque mexeu com um, mexeu com todos.

Rezei, amigos, rezei pra gatucha parar com aquela encheção de balde. Ela parou. Uma pessoa antes de mim. Respirei aliviada, me refresquei e jurei nunca mais voltar a praia nenhuma sem antes checar a condição das águas.

Fato 2: Revéillon em Copacabana. Sim, eu e meu namorado somos mesmo guerreiros. Na verdade foi meu segundo revéillon em Copa. É bastante tranquilo, nunca vi tumulto algum e se você ficar longe do palco principal não há muvuca. Claro, está tudo cheio, mas é um cheio que não desafia nenhuma lei da Física. Você não divide espaço corporal com outras pessoas. Mas, é claro que isso não significa que você não vá ver gente estranha ou coisas bizarras. Vai sim, certamente. Estamos falando de Copacabana, acima de qualquer coisa. Impossível não haver algo pitoresco por ali, ainda mais em Ano Novo.

Aí que eu adooooro pular 7 ondinhas. Nem ligo que é bobo, nem ligo mesmo. E nem liguei que estávamos em Copa e que, provavelmente, junto com as sete ondas meus pés ficariam agarrados em flores e eu levaria alguma garrafada de Cidra no dedão. Nem liguei, tradição acima de tudo. Estávamos lá, né, preparados pras ondinhas, em meio a gente de sunga, gente entrando de roupa e tudo naquele mar ruim, gente acendendo velas e jogando na água. Iemanjá deve odiar essas pessoas que sujam tudo. Mas enfim, pulamos uma, pulamos duas, ouvimos uma mulher gritando com a outra bem ao nosso lado a seguinte frase:

- TIA, NÃO FEZ XIXI NÃO? POR QUÊ? VAMOS VOLTAR LÁ.

As duas estavam vestidas. As duas entraram na água, até a altura do quadril. A tal da tia agachou n'água naquela posição semi-cócoras-tô-fazendo-xixi e eu e meu namorado olhando estupefatos aquela cena, desesperados porque certeza que na próxima onda viria xixi da véia. Mudamos de lugar, mas a impressão é de que pulei xixi alheio, e não as necessárias 7 ondas. Xixi de roupa na praia de Copacabana. Na frente de todo mundo. É preciso MUITA falta de noção, não é?

Back and black, back to black

Final de ano, o terror dos professores particulares. Alunos param as aulas. Resolvem voltar só depois de sei lá quando, que, geralmente, é o Carnaval. Foram cinco alunos que perdi de um mês para outro, dois demitidos, uma transferida, outra que trocou de emprego e outro que não pode mais pagar. Juntando isso ao período de férias escolares, em que meus dois alunos adolescentes param o curso, vocês têm o caos que minha vida se tornou no último um mês e meio. E onde minha vida continua. Caótica. Daqui um mês começam as procuras por aulas e aí eu entro naquela fase de ter que recusar alunos por falta de horário disponível, mas, até lá, quem paga minhas contas?

Graças ao meu namorado pude ter férias, pudemos passar quase quinze dias juntos, aproveitamos muito! Mas de sábado para domingo, na eminência de voltar à realidade, o que acontece? Começo a passar mal. Mal mesmo. Muita dor de barriga, que não, não era infecção alimentar nem nada parecido. Era só dor, constante, com pontadas ocasionais. Passei o meu último dia de férias deitada, sem comer nada, com meu namorado cuidando de mim e fazendo palhaçadas pra tentar melhorar meu ânimo. Eu não sabia o que eu tinha, quando, de repente, veio a tal da queda de ficha. Cada vez que eu pensava em voltar e nas contas que não conseguirei pagar, vinham as dores fortes.

Bingo.

É a tal da somatização. Ou seja lá o que for que quer dizer que você está sofrendo fisicamente aquilo que, a princípio, era só psicológico.

E é assim que estou, até agora. Com dores. Agora a dor é na cabeça e nas costas. Tipo velhinha. E vou fazer 31 anos no próximo domingo e nem quero fazer aniversário, hein. Gostaria de parar nos 30. 31 é toda uma outra década se iniciando, é a comprovação de que o tempo realmente passa e aí, o que você fez? O que você realizou? Crise, pessoal, crise.

2010 começou com esse mix de "curtindo a vida adoidado" no Rio com meu namorado mais falta de dinheiro mais contas vencendo mais 31 anos mais viagem vindoura a outro estado para fazer exame de DNA (não, não vou explicar isso agora, me desculpem). É muita coisa pruma pessoa de 1,58 de altura e 50 quilos, né? Eu acho.

Que tudo melhore, pra mim e pra todos vocês!

Feliz 2010!